30 DEZ 2011 - 11H10
Quando a televisão mostra grupos marginais de São Paulo agredindo nordestinos e destilando um preconceito asqueroso, a gente tem a impressão de que se trata de um ou outro episódio isolado.
Não é verdade. O preconceito contra o Nordeste é um fato muito mais
corriqueiro na sociedade paulista do que se imagina. A imprensa sulista -
assim chamada, embora seja do sudeste - alimenta este sentimento de
asco aos nordestinos.
Querem um exemplo?
Uma das manchetes de hoje do Estadão é reveladora deste descaso que
as elites brasileiras dispensam ao Nordeste. Diz o jornal: “Mais 1,2 bi
para uma obra polêmica”.
A obra “polêmica” a que se refere a notícia é a transposição de águas
do rio São Francisco para os Estados do Ceará, Pernambuco e Paraíba.
“Depois de R$ 2,8 bilhões gastos, a transposição registra atualmente obras paralisadas, em ritmo lento e até trechos onde os canais terão de ser refeitos, como é o caso de 214 metros em que as placas de concreto se soltaram por entupimento num bueiro de drenagem”.
Polêmica? Trazer água de um rio brasileiro para regiões semi-áridas
do Nordeste é polêmico? Só na cabeça dos paulistas que, se pudessem,
desencadeariam uma campanha separatista.
Esse comportamento da imprensa de São Paulo, que não se dedica a
procurar entender os problemas nordestinos é, em tudo, semelhante ao que
fazem nas ruas os grupos marginais e bandoleiros que agridem negros,
nordestinos e gays.
Aliás, separar-se do Brasil talvez trouxesse boas vantagens para o
Nordeste. Culturalmente, sairíamos ganhando. Na economia, não seria o
desastre que tanto se alardeia: exportaríamos petróleo, rapadura, gente
trabalhadora e muito mais.
Evidentemente que não sou um separatista. Gosto do Brasil, inclusive
de São Paulo, do jeito que as coisas estão. Mas, daí a aguentar
grosserias é coisa muito diferente.
A transposição das águas do São Francisco não é uma obra que enseje
polêmicas. É uma aspiração secular dos nordestinos, que têm direito aos
benefícios hídricos do maior rio genuinamente brasileiro.
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