Inventor cria técnica de construção de "tijolos" de material
reciclado que promete ser mais barata, rápida e ambientalmente eficaz
Não é preciso ter qualquer conhecimento especial para constatar que o
plástico está presente na composição da maioria dos objetos que fazem
parte do dia a dia da vida moderna. Ainda que seja versátil, contudo, o
material costuma representar um problema para o meio ambiente, uma vez
que não se degrada com facilidade. A dificuldade de compactá-lo também
é uma dor de cabeça, já que isso faz com que os aterros tornem-se cada
vez mais abarrotados de lixo. Para tentar amenizar esses e outros
problemas, há dezenas de itens feitos com plástico reciclado, mas o
professor Reginaldo Marinho resolveu ir além das bolsas, das bijuterias
e de outros objetos feitos com garrafa PET e criou a tecnologia
Construcell. Constituída por módulos (ou "tijolos de plástico"
reciclado), a invenção é capaz de dar origem a construções inteiras que
dispensam o uso de madeira, metal ou concreto.
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Feitos de plástico ou acrílico, os módulos têm formato triangular. Quando sobrepostos, os "tijolos" são unidos por parafusos - o que, conforme Marinho, que ensinava geometria descritiva quando criou a técnica, acaba com o desperdício de material, problema responsável por aumentar consideravelmente o custo de qualquer construção. Pensada em um primeiro momento para ser usada na concepção de armazéns para estocagem de grãos, a tecnologia pode, segundo o inventor, ser levada para a cobertura de hangares, balcões industriais e ginásios esportivos. Além da vantagem ecológica, as peças oferecem uma série de outras qualidades, como rapidez na montagem, conforto acústico, uso de resíduos sólidos e beleza estética.
Por serem transparentes, é possível também instalar as chamadas
placas fotovoltaicas, painéis geralmente aplicados em telhados para
converter energia solar em eletricidade. "Isso transforma a construção
em uma usina solar", completa o inventor. Entre as vantagens da união
entre os módulos e as placas fotovoltaicas está a possibilidade de
levar a "casa de plástico" para áreas remotas, que não teriam acesso à
eletricidade de outra forma. "O Estado brasileiro pode usar essa
tecnologia para construir instalações militares para a proteção de
fronteiras", exemplifica Marinho. O custo para colocar as placas também
é reduzido - já que, segundo o criador, a nova tecnologia já oferece a
estrutura para o suporte das placas e dispensa a necessidade de
lâminas de cristal de proteção que elas normalmente precisam.
Embora ainda não tenha números precisos sobre a dimensão da economia
que poderia ser alcançada com os novos módulos, apenas o fato de a
matéria-prima ser plástico reciclável já garante um custo menor ao
longo do processo. "Os investimentos iniciais são os mais altos, pois o
projeto precisa de uma máquina injetora de grande porte para a
construção dos moldes e para poder ser colocado em prática", pondera.
Por fim, Marinho aponta a rápida montagem das casas de plástico como
uma vantagem para a construção de "abrigos emergenciais para populações
vitimadas por catástrofes naturais". "No nosso imaginário, a casa tem
que ter telhado, mas os módulos também cumprem esse papel", explica.
"As paredes podem ser opacas, não precisam ser transparentes."
Mais testes
Na construção civil, a consciência de que, dos materiais escolhidos à
localização dos empreendimentos, tudo influencia em como será o
impacto sofrido pela natureza também transformou-se em uma preocupação
constante. Iniciativas como a de Reginaldo Marinho fazem parte desse
novo nicho ecológico. Não é fácil, porém, desenvolver tecnologias
ecoinovadoras. Segundo o criador da Construcell, a falta de incentivo
financeiro, especialmente por parte do governo, ainda é um obstáculo
difícil de ser contornado. "A única questão negativa desse projeto é o
número de anos pelos quais ele vem se arrastando", comenta Argemiro
Brito, engenheiro estruturalista responsável pelo cálculo estrutural dos
módulos.
Desde que foi concebida, em 1998, a invenção já recebeu prêmios
internacionais e foi apresentada em congressos de engenharia por todo o
Brasil. Brito, contudo, defende que, antes de ser adotada de fato, a
tecnologia ainda carece de testes práticos. "É preciso explorar mais as
possibilidades dos módulos na prática", justifica. "Como toda ciência,
a ideia é teórica e experimental, mas precisa de apoio para sair do
papel."
O objetivo, segundo o engenheiro, é partir do modelo reduzido para a
criação de um túnel de vento, batizado por ele de cúpula geodélica.
"Essas cúpulas podem ser usadas como estufas ou pavilhões de exposição
que economizam energia", exemplifica. Mesmo com tantas vantagens, a
própria leveza do material pode ser seu principal vilão. "O vento
existe, a chuva também. Estruturas mais pesadas não sofrem com isso",
compara Brito.
Com o pensamento voltado para o tema da preservação do meio ambiente
e da utilização consciente de materiais de construção, algumas
iniciativas promovem discussões a respeito da nova demanda mundial.
Criado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cebic), o
Programa Construção Sustentável reuniu atores do setor, do governo,
organizações não governamentais (ONGs) e representantes da sociedade
civil para pensar em propostas que resolvam os problemas considerados
mais críticos atualmente - como água, desenvolvimento humano, energia,
materiais e sistemas, meio ambiente, infraestrutura e desenvolvimento
urbano, mudanças climáticas e resíduos. "Buscamos soluções que possam
atender a essas necessidades das empresas", completa Lirian Sarrouf,
especialista em construções sustentáveis e consultora da Cebic.
De acordo com estudos feitos pela Fundação Getúlio Vargas, até 2009,
o Brasil necessitava de 5,81 milhões de moradias. Para que o país
alcance a meta de zerar o déficit habitacional serão necessárias 23,49
milhões de unidades para o período entre 2010 e 2022. Quase 85% da
população vive hoje em áreas urbanas e 23% moram nas cinco regiões
metropolitanas.
A necessidade de criar locais para abrigar tanta gente esbarra no
problema da escassez de recursos naturais: como criar casas para todos
sem prejudicar a natureza de maneira irremediável? "Apoiamos
iniciativas como o Procel Edifica, que criou uma etiquetagem para medir
o desempenho energético das residências", explica Lirian. "Vemos que,
cada vez mais, as construtoras estão buscando diferenciais (na área da
sustentabilidade)."
Construção sustentável
Para que um empreendimento seja, realmente, ecológico e sustentável é
preciso prestar atenção a alguns detalhes ao longo do processo. Saiba
quais são eles:
Fonte: Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica (IDHEA)
Correio Braziliense - 28/12/2011
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Um blog de Ronilson Paz, reservado para comentários, ideias e análises sobre assuntos diversos, em especial sobre temáticas ambientais, Biologia, educação, informática, pesquisas e pessoa com deficiência.
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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Reciclagem: O plástico "do bem"
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