Autor(es): MARTA SALOMON
O Estado de S. Paulo - 30/12/2011
O Estado de S. Paulo - 30/12/2011
Futuro da transposição, além do alto custo, esbarra em preço da tarifa de água
Com dificuldades para completar as obras da
transposição do Rio São Francisco, cujo custo já explodiu, o governo
analisa como cobrar do consumidor do semiárido nordestino o alto preço
da água. Para vencer o relevo da região, as águas desviadas do rio
terão de ser bombeadas até uma altura de 300 metros. O trabalho
consumirá muita energia elétrica e esse custo será repassado, pelo
menos em parte, à tarifa de água, que ficará entre as mais caras do
País.
Estimativas preliminares apontaram custo de R$ 0,13 por metro cúbico de
água (mil litros) apenas para o bombeamento no eixo leste, entre a
tomada da água do São Francisco, no município de Floresta (PE), até a
divisa com o a Paraíba. Nesse percurso, haverá cinco estações de
bombeamento, para elevar as águas até uma altura maior do que o Empire
State, em Nova York, ou do tamanho da Torre Eiffel, em Paris, ou ainda
96 metros menor do que o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. O maior
arranha-céu de São Paulo nem chega perto.
A estimativa de custo do bombeamento da água no eixo leste foi feita
pelo Ministério da Integração Nacional e projetava o início do
funcionamento dessa parte da transposição ainda em 2010. Como a obra só
deve começar a operar completamente em dezembro de 2015, conforme a
última previsão do ministério, o custo deverá aumentar.
Sem revisão, o valor já representa mais de seis vezes o custo médio da
água no País. Novo estudo sobre o custo foi encomendado à Fundação
Getúlio Vargas.
Imbróglio. Trata-se de uma equação não resolvida. O governo federal se
comprometeu a bancar o custo total da obra, estimado inicialmente em R$
5 bilhões e que deverá alcançar R$ 6,9 bilhões, mas não definiu como
financiar a operação do projeto, com a manutenção dos canais e o
consumo de energia para o bombeamento.
O custo da construção já inclui a estimativa de gasto de mais R$ 1,2
bilhão para concluir um saldo de obras entregues a consórcios privados
que não conseguirão entregar o trabalho, como revelou o Estado na
edição de ontem.
O Ministério da Integração Nacional, responsável pela obra, não se
manifesta, por ora, sobre a concessão de subsídio à água a ser desviada
do Rio São Francisco para abastecimento humano e também para projetos
de irrigação e industriais, segundo informa o último Relato de situação
do projeto da transposição.
O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), também não acredita em
subsídio direto por parte dos Estados: "O custo pela água efetivamente
consumida pelos Estados deverá ser rateado entre o ente estadual e os
consumidores finais, seja para consumo humano ou para outros usos, como
a irrigação". A União e os Estados assumiriam o custo de manutenção e
conservação dos canais e bombas, completou o governador.
O assunto é debatido com os quatro Estados que receberão as águas
transpostas do São Francisco: além da Paraíba, Pernambuco, Ceará e Rio
Grande do Norte. As companhias de abastecimento desses Estados deverão
integrar um consórcio comandado pela Companhia de Desenvolvimento dos
Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) para administrar o
projeto, segundo proposta em discussão no Ministério da Integração.
Consórcio. Até o final do governo Lula, o ministério trabalhava com a
hipótese de criação de uma nova estatal para gerir a transposição.
Agora, a equipe do ministro Fernando Bezerra trabalha também com a
possibilidade de uma parceria público-privada para administrar a
distribuição da água e a manutenção da infraestrutura da transposição.
Mas essa PPP enfrentaria dificuldades para se viabilizar, como a "alta
complexidade institucional e financeira", aponta documento do
ministério. A formação de um consórcio público, em estudo, dependeria
de autorização de leis federais e estaduais.
O centro de controle do projeto já tem localização definida, no
entanto. Será no município de Salgueiro, em Pernambuco, que também
abriga a última estação de bombeamento do eixo norte.
A transposição do Rio São Francisco prevê a construção de mais de 600
quilômetros de canais de concreto em dois grandes eixos para o desvio
das águas. Ao longo do caminho, o projeto prevê a construção de nove
estações de bombeamento de água. No eixo norte, haverá três estações de
bombeamento, que elevarão as águas até uma altura de 180 metros. Depois
da fronteira com o Ceará e no Rio Grande do Norte, o eixo contará com a
gravidade para levar as águas. Com isso, o custo final da água deverá
ser menor do que no eixo leste.
De acordo com o Ministério da Integração, os equipamentos para o
bombeamento da água já foram encomendados. Relatório da pasta registra
77,8% de avanço no cronograma de compra de bombas e demais
equipamentos, com R$ 459 milhões já desembolsados, de um total de R$
2,8 bilhões que a transposição do rio custou até aqui.
A obra faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). É o
projeto mais caro bancado com dinheiro da arrecadação de impostos. A
primeira fase de operação deverá ser iniciada, no eixo leste, só ao
final de 2012.
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